sexta-feira, 28 de novembro de 2008

BPN: A Casa Pia do PSD?

Ou me engano muito ou corre-se o risco do BPN estar para o PSD como a Casa Pia esteve para o PS. Se assim for, ainda haverá muito a saber-se até que, num determinado momento, a coisa seja travada antes que não sobre pedra sobre pedra desta III República.

Explico. Como se sabe, a Casa Pia acabaria por levar à demissão da liderança de Ferro Rodrigues do PS. O resto, como se costuma dizer, é História. Ferro acabou por não ser primeiro-ministro e o PS virou à direita com Sócrates.

No BPN, todos os nomes que têm saído nos jornais apontam para um denominador comum: cavaquistas. Com o claro propósito de fragilizar o Presidente da República. Tendo em conta que, actualmente, na liderança do PSD está também uma conhecida cavaquista, não me surpreenderia que, involuntariamente, Manuela Ferreira Leite acabe por ser sacrificada em nome de um interesse superior.

Dito de outra forma. Há sectores do PS e também do PSD que não vêem com bons olhos a estreita ligação que existe actualmente entre o Palácio de Belém e a Rua de São Caetano à Lapa. Para isso, nada melhor do que, fragilizando o PR, acabem também por atingir a actual Direcção Nacional laranja.

E, se pelo meio, se conseguir afastar alguns elementos do PS que podem fazer sombra ao primeiro-ministro, melhor. Aliás, não tendo nada a ver com este caso em concreto, não deixa de ser interessante notar que António José Seguro, embora continuando a marcar o seu caminho, já fez saber que não será (ainda?) candidato contra Sócrates…

A minha aposta – tendo em conta que Pedro Passos Coelho já se iniciou nos circuitos dos jantares de carne assada e que Marcelo Rebelo de Sousa já sossegou as hostes ao deixar claro que, se for preciso o PSD não fica órfão – é que até ao final do ano/inícios de 2009, haverá ainda algumas novidades nesta matéria.

Resta saber se Manuela Ferreira Leite terá a determinação que, no momento chave faltou a Luís Filipe Menezes. Comme d´habitude, quando está na oposição, o PSD é sempre um partido interessante para se acompanhar.

quarta-feira, 26 de novembro de 2008

O Vice Rei do Norte

A entrevista de ontem do Diário de Notícias a Pires Veloso sobre o 25 de Novembro peca por ser curta. Numa altura em que, nos dias de hoje, o passado recente de Portugal é ensinado quase a correr e com vergonha, é importante que os testemunhos vivos de uma época possam dizer de sua justiça o que de facto realmente se passou nos conturbados anos de 1974 e 1975.

Só assim, os Portugueses poderão crescer com a real noção do que esteve realmente em jogo e porque é que, quando se fala do PREC, certos homens e partidos são glorificados e outros esquecidos. Ainda não li o livro, mas já está na minha lista de obras para comprar.

Assobiar para o ar

A novela BPN ainda vai no início e já há inúmeros indícios de que algo de podre vai no reino. A celeridade com que se procedeu à nacionalização do banco, que só tem paralelo com a fobia estatizante dos tempos de Vasco Gonçalves, mostra que há mais interesse em esconder factos do que propriamente em revelá-los. E, se dúvidas houvesse, bastava ver os acontecimentos desta semana com o Banco Privado Português.

Ao contrário do BPN, o Estado opta por deixar cair o BPP, ao anunciar que o banco de João Rendeiro não vai receber o aval do Estado. O destino, já se adivinha, é a mais que provável falência da instituição. Teixeira dos Santos, na sua magnificência, já declarou que uma eventual falência do BPP não provoca risco sistémico. O que diz tudo o que o Estado pensa sobre a questão.

Inversamente, e apesar do manto de silêncio que se quis criar, todos os dias parecem existir novidades no BPN. Como contribuinte que está a pagar a nacionalização de um banco que, afinal, parece que era uma espécie de agência de emprego milionária do Bloco Central, acho muito estranhas estas alegadas confusões que envolvem o Dr. Dias Loureiro.

Eu nem quero perceber o que se passa. Sinceramente. Mas confesso que fiquei mesmo com a ideia que o Presidente da República está muito incomodado com a questão. Primeiro teve de validar a decisão nacionalizadora do Governo. Depois começou a ver o seu nome envolvido neste lamaçal. E agora, vê o seu conselheiro de Estado, amigo de há anos, chamado à dança.

Cavaco Silva explicou que não pode demitir Dias Loureiro – a legislação não o permite – e, implicitamente, deixa ao seu conselheiro o ónus dessa decisão. E o que faz o ex-ministro? Pede para ser recebido em Belém e, como diz que não cometeu ilegalidades, anuncia que não irá renunciar.

O problema do Dr. Dias Loureiro não é o de ter infringido ou não a lei – para isso supostamente existem os Tribunais. O problema é o que colocou a primeira figura do Estado, seu amigo pessoal, numa situação incómoda. Eu aprendi há muito que os amigos nunca se deixam na mão. O Dr. Dias Loureiro, pelos vistos, aprendeu que, nas amizades, quando a coisa aperta, o mais fácil mesmo é assobiar para o ar.

sexta-feira, 21 de novembro de 2008

O sapo e o escorpião

O Público conta hoje que o BE se prepara para retirar o apoio a Sá Fernandes na CML. As razões para o afastamento progressivo dos bloquistas em relação ao vereador só causam estranheza a quem não conhece a personagem e a forma de fazer política desta esquerda caviar.


Sá Fernandes usou o Bloco, da mesma forma que este o usou a ele. Estão bem um para o outro e, confesso, até fiquei surpreendido que este entendimento tenha durado até aqui. O BE irá certamente tirar o tapete a Sá Fernandes e este, devido aos favores que tem feito ao PS, será certamente recompensado com um lugar nas próximas listas.


Só falta mesmo é começar-se a saber cá fora o que há muito se sabe lá dentro. Há histórias "interessantes" (to say the least) do agora mui respeitável vereador bloquista que davam para encher páginas e páginas de jornais - para ser simpático.


Pode ser que ainda aconteça como ao sapo e ao escorpião e acabem por se afundar todos no lamaçal que se esforçaram por criar.

Percepções e realidade

Em Ponte de Lima, José Sócrates distribuiu a nova coqueluche do Governo: o Magalhães. Até aqui tudo normal. Ou quase. Parece que os computadores foram só enviados para a fotografia. Finda a cerimónia, com os petizes felizes e contentes e o PM a fazer a habitual acção de propaganda, os portáteis foram recolhidos e encaixotados. E, digo eu, enviados para uma outra escola no País profundo, onde um qualquer (ir)responsável desta maioria que nos governa irá proximamente fazer o mesmo número. Ou algo semelhante.

Sinceramente, não percebo. A impunidade com que este Executivo, na sua suprema lata nos governa, deveria tirar uma pessoa do sério. E já nem sequer falo de alguns critérios duvidosos, dignos de um qualquer ditadorzinho terceiro mundista, com que temos sido brindados ao longo destes últimos anos.

Vejamos o que se passa aqui em Cascais. Estivemos anos (repito: anos) à espera que Suas Excelências se dignassem a iniciar as obras no Hospital; quiseram tirar-nos a Oncologia; construímos e entregámos os novos Centros de Saúde, que também estiveram que tempos para abrir. E no meio de tudo isto, entre medos de protagonismo da Junta de Turismo da Costa do Estoril e amiguismos vários, criam uma lei à medida das suas ambições e forçam a extinção deste organismo quase centenário.

Pelo meio, dizem à boca cheia que as Câmaras Municipais são caloteiras e não pagam a este mundo e ao outro. Mas esquecem-se que, em Cascais, são 13 milhões de euros que deviam estar deste lado e, inexplicavelmente, estão nas mãos do Governo.

Seria patético, se não fosse para levar a sério.

Infelizmente, a diferença entre a percepção que o Governo tem e a realidade com que nos brinda é cada vez mais gritante.

(Artigo de opinião publicado no Jornal + Cascais de 21 de Novembro)