terça-feira, 30 de agosto de 2011

A criação de uma marca ou como se luta contra o imobilismo

Sou da geração em que surgiram os primeiros projectos de Comunicação Social online. Fui jornalista fundador do Diário Digital numa altura em que os jornais em papel começavam a apostar também na Internet. Vivemos o boom do www e fizemos coisas inimagináveis, criativas e que marcaram a diferença. Hoje o Diário Digital ainda subsiste mas é, infelizmente, uma pálida imagem do que foi e, mais importante que isso, do que poderia ter sido.
Serve o parágrafo anterior para louvar a iniciativa de que o Dinheiro Vivo, até aqui exclusivamente online vai passar a ter uma edição em papel . Quando surgiu certamente tiveram as suas dificuldades. André Macedo, o director refere que em experiências passadas no i e na Sábado, “tive de fazer o caminho a partir do zero. Não havia fontes, as pessoas não conheciam a marca”. Hoje, felizmente, é diferente e o Dinheiro Vivo consolidou-se no mercado e dá o que se pode dizer que é passo natural e lógico: a passagem para uma edição também em papel, o que, no caso do Diário Digital nunca aconteceu e, penso, terá determinado o actual status quo do jornal.
No caso do Dinheiro Vivo, fica-se a saber que os projectos não vão parar por aqui e o Dinheiro Vivo parece imparável. Uma boa notícia contra a crise e a prova de que, se formos bons, interessados, ambiciosos e com vontade, tudo conseguimos.
(Também aqui)

sexta-feira, 19 de agosto de 2011

Laicismo e intolerância

Já não nos devia surpreender, mas acaba sempre por acontecer. A suposta tolerância dos intolerantes abarca apenas aquilo com o que concordam ou que, pura e simplesmente, têm medo. O que se passou em Madrid com os “manifestantes” laicos a insurgirem-se contra a visita do Santo Padre, a arranjarem confusão com os jovens Católicos é algo que não se deveria passar em nenhum lugar do mundo e, muito menos, num país de tradição Católica como Espanha.

Mas infelizmente as coisas são como são e o politicamente correcto faz sempre das suas. Os intolerantes são descritos como descontentes sociais, desfavorecidos, excluídos. Em resumo, são uns desgraçados. E do outro lado da barricada estão os alvos a abater.

Como Católico, naturalmente choca-me este tipo de comportamentos e a inércia que, às vezes, nos temos de sujeitar porque, senão, aqui d´El Rei, "eles-nunca-mudaram-desde-as-Cruzadas-e-a-Inquisição-e-no-fundo-querem-mesmo-é-voltar-a-dominar-o-mundo". E se a conversa vai para a influência do Opus Dei então, ui, é bom nem pensar em argumentar alguma coisa em contrário...

Ao abrigo da tolerância que supostamente temos de ter, aceitamos ser enxovalhados em debates onde se discutem questões fracturantes com as quais não concordamos, vemos aquilo em que acreditamos ser gozado em peças de teatro de gosto duvidoso e, em alguns pontos do globo, morremos apenas porque acreditamos em algo diferente.

No fundo, a intolerância dos supostos democratas (ateus ou não) só funciona para um dos lados. O deles.

E o que acontece na religião, ocorre também na política. A esquerda matou milhões de pessoas em nome de uma ideologia falhada, mas é muito fixe andar com t-shirts do Che Guevara e do Estaline. Para esta gente, a direita é, automaticamente e por inerência, uma cambada fascista e beata que devia ser fuzilada no Campo Pequeno ou colocada nos postes da Marginal.

Um Padre que conheço, e que me honra com a sua amizade, disse-me um dia que “Deus Nosso Senhor ensina-nos a seremos bons, mas não nos ensina a sermos parvos”. Um destes dias, a malta farta-se de jogar o jogo do politicamente correcto.

quinta-feira, 18 de agosto de 2011

O convite

A alegada proposta de Miguel Relvas a Mário Crespo para este ser correspondente da RTP em Washington peca pela forma, mas não pelo conteúdo. Não compete ao Ministro que tutela a Comunicação Social investigar o mercado, numa competência que é da Direcção de Informação do canal Estatal. Mais. Faltou aqui algum bom-senso. Mas também é verdade que não se está a criar um cargo de raiz ou algum tacho: a RTP está sem correspondente em Washington desde a saída de Vítor Gonçalves e o procedimento de concurso é normalmente interno, critério que não se aplica a Mário Crespo, actualmente jornalista da SIC. O próprio, por seu turno, não desmente a abordagem e até se mostra honrado com o convite.

Dito isto, se se confirmar, é um justo reconhecimento a Mário Crespo, um dos profissionais de comunicação mais multifacetados que conheço. Se for para Washington, onde já esteve pela RTP nos anos 90, é a prova viva que o mundo dá muitas voltas e que, afinal, até há justiça neste mundo.

Já não é do tempo de muita gente, mas ainda me recordo a forma como Mário Crespo foi maltratado pela administração (socialista) da RTP na altura, colocado na prateleira, humilhado e desprezado. Cansou-se da forma como lidavam com ele e após uma conversa com Emídio Rangel, que lhe deu a mão numa altura difícil da sua vida, ingressou na SIC. Criou o seu espaço e tem feito um trabalho notável.

Terei pena se Mário Crespo aceitar o convite feito e saia da SIC. Não porque não ache que a proposta é despropositada – não o convidaram para ser piloto de aviões certamente - mas porque sentirei falta das entrevistas notáveis que realiza, como foi o caso, por exemplo, da de ontem, a Viriato Soromenho Marques.

Seja como for, a polémica é estéril, despropositada e desnecessária. Há, infelizmente, coisas bem mais graves que se passam na RTP.

O fim do british humour

O Reino Unido foi sempre conhecido pela sua vertente democrática de séculos. O reverso da medalha, no caso do Império Britânico, resume-se à forma como a velha Albion lidou com tudo o que era diferente no seu território.

A tradição levou a devoção do King/Queen and Country a vários pontos do globo. Hoje, o Reino Unido já não é o Império onde o sol nunca se põe, mas a sua influência mantém-se, quer através da Commonwealth of nations, quer através de séculos de domínio britânico.

Mas o Reino Unido, tal como a "sua" Índia, sempre teve um “sistema de castas”, invisível, que condicionou e condiciona a sociedade. Os colégios elitistas, os clubes, a monarquia e a nobreza sempre se deram com alguma dificuldade com o povo. Convivem separados e influenciam ainda nos dias de hoje a sociedade e os territórios por eles administrados ao longo de séculos. O Apartheid na África do Sul foi a consequência lógica da herança britânica; a sociedade de castas na Índia acentuou-se com o domínio de Sua Magestade…

Mas apesar disso, ou por causa disso, temos um povo que consegue rir de si próprio, das suas tradições, do seu elitismo e dos seus imigrantes. O british humour evoluiu para patamares que, em qualquer país do mundo, levaria a queixas e tumultos. Os britânicos são os primeiros a criticarem-se, a fazer humor com a tradição do "chá das cinco" e conseguem ter minorias (indianos, paquistaneses, africanos) em programas de humor onde são evidenciadas as tradições e, às vezes, o non sense destas comunidades em Inglaterra.

Contudo, os recentes tumultos em Londres e em várias cidades do Reino Unido colocaram a nu as fragilidades deste “sistema de castas”. Excluídos sociais, imigrantes, criminosos, descontentes, foram vários os epítetos chamados a quem, nas últimas semanas, se dedicou a saquear e a destruir propriedade alheia, a sua maioria imigrantes e elementos de classes desfavorecidas que, independentemente da cor da pele só podem ter um nome: bandidos.

Depois de ter divulgado um programa que analisava os distúrbios em Londres e que dava pelo nome de “Is there a problem with young black men?” a BBC viu-se obrigada a pedir desculpas à comunidade africana após terem chovido críticas de vários países ao título escolhido. O humor aqui não tem, obviamente, lugar, mas é um sinal que, paulatinamente, até Londres vai cedendo ao politicamente correcto. Será que um dia deixarão de conseguir rir de si próprios?

quarta-feira, 17 de agosto de 2011

Precisamos de uma RTP estatal?

Em termos de perda de soberania de Portugal, confesso que me fez mais confusão a substituição do escudo pelo euro. Na escola fui ensinado que a soberania era o núcleo duro e inamovível de qualquer Estado. Mais tarde, já nos bancos da universidade, vieram afinal dizer-me que a soberania é um conceito mutável e não é por os Estados abdicarem de alguns elementos tidos como essenciais de soberania que não deixam de ser menos Estado por causa disso.

Ficámos, portanto sem a moeda, o Governo actual obedece a uma Troika, as directivas da União Europeia têm prevalência sobre o direito nacional, o tratado de Lisboa limitou ainda mais a soberania dos Estados membros e depois da fúria nacionalizadora dos idos anos de 75, onde até a loja do sapateiro Zé foi nacionalizada porque o senhor tinha dois ajudantes que também queriam ser patrões, estamos dispostos a vender empresas que estão nas mãos do Estado, acabar com golden shares e, basicamente, colocar Portugal à venda.

No meio de tudo isto, confesso que me faz alguma confusão o drama existencial de algumas virgens ofendidas com a opção deste Governo em querer privatizar a RTP (e a Lusa, ao que tudo indica também). Acompanhem-me neste raciocínio:

Nacionalizamos tudo o que havia para nacionalizar e destruímos o nosso tecido empresarial que cresceu nos últimos anos à sombra do Estado; mantivemos quotas de incompetentes que desde essa altura saltam de empresa estatal em empresa estatal e, tão depressa, são peritos em transportes como em batatas fritas; vendemos a nossa agricultura e as nossas pescas em nome de fundos intermináveis que afinal terminaram mesmo; abdicamos da nossa soberania; destruímos as Forças Armadas, que são hoje uma pálida imagem do que poderiam ser;

Década atrás de década, Governo atrás de Governo, foi sendo destruído um País. E agora insurgem-se contra a privatização da RTP porque, aqui d´El Rei, a nossa soberania está em causa? Estamos a brincar?

Por mim, venda-se a RTP. Milhões de euros, pagos por todos nós são injectados anualmente nesta empresa para que alguns andem a brincar aos jornalistas e aos gestores criativos. Com milhões eu também consigo fazer um bom trabalho. O grave é que, no caso da RTP, nem com esses milhões, o canal (ainda) estatal vai lá. Só é líder de audiências quando exibe jogos de futebol. Serviço público? Na RTP? Só se for uma piada de mau gosto. E à nossa custa, ainda por cima.

terça-feira, 16 de agosto de 2011

O capitalismo morreu

O que se assiste nos últimos alguns anos no mundo mostra que o capitalismo como sistema acabou. Depois de décadas infindáveis a promover o bem-estar da sociedade em geral e do indivíduo em particular, após ter dado a oportunidade para a Europa se reconstruir no pós-guerra e de ter vencido a luta ideológica contra o socialismo, o capitalismo degenerou para um monstro incontrolável que está a destruir tudo aquilo que as sociedades obtiveram nas últimas décadas.

Os acontecimentos de Londres, que nos chocam porque acontecem na velha Albion e não num qualquer país distante, são a prova viva que as sociedades perderam tudo e agora tudo fazem porque não têm mesmo mais nada a perder. Primeiro perderam valores ou trocaram-nos em nome da igualdade e do politicamente correcto, depois venderam ideais e ideologia porque todos o faziam. Agora é o salve-se quem puder, quando puder.

Pelo meio, governos foram sendo cilindrados por grupos económicos que visam o lucro a qualquer custo e que foram crescendo à sombra de um Estado que há muito os deixou de controlar. Lá como cá.

O capitalismo criava desigualdades, é verdade, mas permitia oportunidades. Este capitalismo desenfreado que hoje temos apenas promove a riqueza excessiva de poucos para a miséria cada vez maior de muitos. Salvo erro, foi Ângela Merkel que disse que era chegado o tempo dos privados ajudarem o Estado depois deste os ter ajudado durante décadas. Mas, tirando casos pontuais, o silêncio é de ouro. Empresas, empresários e capital aguardam por melhores dias, em que o Estado volte ao regabofe de apoiar indiscriminadamente quem deveria contribuir para a riqueza nacional.

Mas os recursos secaram e os tumultos estão na rua. Na Europa, atacada como nunca, todos vaticinam o fim do euro e a implosão de um modelo que manteve a paz no continente durante as últimas décadas. Estamos a viver o estertor da União Europeia e do capitalismo.


Em 1989, com a queda do muro de Berlim, percebemos que o sistema socialista tinha falhado. Duas décadas mais tarde, começamos a perceber que o sistema capitalista terá também os dias contados. O mundo vai mudar e tentar adaptar-se aos novos tempos e às novas realidades. Porque o socialismo falhou e o capitalismo também.

sexta-feira, 12 de agosto de 2011

Outra vez???

A conferência de imprensa do Ministro das Finanças foi preparada certamente com cautela, as fugas para a Comunicação Social pensadas e a estratégia delineada. Ontem, supostamente, o Governo iria anunciar hoje cortes na despesa pública do Estado, que iriam permitir continuar no bom caminho e confirmar à troika a determinação deste Executivo.

Hoje, Vítor Gaspar pouco falou das medidas de contenção da despesa e do que fica da declaração sem direito a perguntas é o anúncio que o Governo vai aumentar de 6% para 23% a taxa de IVA para o gás e a electricidade, o que permitirá um encaixe estimado de 100M€.

Os senhores ministros e o PM estiveram reunidos durante 10 horas. E, uma vez mais, o que fica dessa reunião são, afinal, medidas para o Estado aumentar a receita à custa dos mesmos? Não percebo.

Bem pode o ministro das Finanças dizer que esta medida constava da troika já a partir do próximo ano e que este aumento irá ser minorado pela tarifa social para ajudar os mais necessitados. O problema, senhor Ministro, é que a classe média – se é que ainda existe classe média em Portugal – já são milhares de famílias necessitadas a viver na corda bamba e com pouca margem de manobra para sobreviver.

Muitas famílias hoje em dia contam todos os cêntimos para conseguir chegar ao fim do mês e ficam desfalcadas com alguma despesa extra que possa surgir. Estas são realidades que a classe política não consegue entender – a pobreza escondida - mas que tinha a obrigação de o fazer. No final de contas, foram eleitos, com muita esperança, por milhares de pessoas que achavam que tudo poderia ser diferente…

Senhor Ministro: Para quando o fim do regabofe no Estado, em empresas públicas, Câmaras Municipais e Regiões Autónomas? Se precisar de algumas dicas, é só pedir. Infelizmente, sei de muitas histórias de inúteis e perdulários que usam e abusam do Estado a seu bel-prazer…

quarta-feira, 10 de agosto de 2011

A tecnologia ao serviço da anarquia

Lê-se no Fibra que o BlackBerry Messenger é o meio de comunicação mais utilizado pelos manifestantes nos motins da cidade de Londres.

Vem isto a propósito do uso que as novas tecnologias e a comunicação 2.0 podem ser usadas. Para o bem ou para o mal. Foi graças ao Twitter que descobrimos que o Médio Oriente estava em polvorosa, com os manifestantes a exigir reformas democráticas. Inversamente, é agora com o Blackberry que os arruaceiros de Londres comunicam para lançar a anarquia.

Mas o uso da tecnologia poderá sair caro aos desordeiros londrinos. A Research in Motion (RIM), criadora do Messenger para este telefone já disse que poderá vir a divulgar os nomes dos utilizadores deste serviço e que estiveram envolvidos nos motins.


(também aqui)

O meio-termo do que poderia ter sido uma boa ideia





A escolha dos dirigentes da administração pública vai deixar de ser através de nomeação directa do Governo e passa a ter de ser feita por concurso público e aberta a licenciados sem vínculo. Findo o processo de triagem, o responsável político escolhe, de entre os três seleccionados, um deles. Esta mudança irá afectar todas as nomeações -gerais, secretários-gerais e subsecretários-gerais, e de inspectores-gerais da administração pública e deixa de fora, para já, os dirigentes dos institutos públicos que continuam a ser escolhidos directamente pela tutela.

O princípio desta mudança é de louvar, mas fica aquém do que podia ser feito e não será, naturalmente, isento de críticas, até porque o processo de decisão final, pese embora a recomendação de um júri, será sempre do ministro, o que dará sempre azo a críticas. Justas ou não.

Ao alterar uma lei que vinha do tempo de Cavaco Silva que, diga-se, nunca foi eficazmente cumprida, o Governo perde aqui uma oportunidade de poder fazer mais e melhor. Explico:

Portugal nunca teve uma opção clara nesta matéria. Não o faz como, por exemplo, acontece nos EUA, onde em cada eleição, tudo o que é pessoal político nomeado cai com a queda da Administração. E não o faz, como por exemplo, no Reino Unido, onde os civil servants, tão bem descritos na série Yes Minister, passam governos porque, justamente, são quadros da administração pública. A proposta do Governo dos tempos de Cavaco Silva tentou colocar Portugal ao nível dos EUA, mas esqueceu-se de definir que o término das funções cessava com a saída do Governo, o que fez com que, em Portugal, quadros dirigentes da Administração Pública nomeados pelo Governo anterior se mantivessem em funções no Governo seguinte ou, em opção, de saída, após uma choruda indemnização.

Por outro lado, ao prolongarem por 5 anos estas nomeações, eventualmente renováveis, irá fazer com que o próximo Governo acabe por ter que decidir sobre escolhas do anterior, num critério que terá que ter em linha de conta não apenas a competência profissional mas igualmente a confiança política.

Porque não aplicar-se a regra que existe nos gabinetes do Governo? Assegurava-se um período de transição e passagem de pasta (três meses por exemplo) e quem fosse para estes cargos saberia desde já o que os esperava: seriam nomeados à entrada e saberiam que têm bilhete de saída com a queda do Executivo. Seria tudo francamente mais fácil e transparente.

O que pensa (alguma) esquerda Portuguesa sobre os tumultos em Londres






O que se lê aqui é um triste exemplo do que a esquerda verdadeiramente pensa sobre a democracia e como esta pode ser deitada para o caixote do lixo quando a soberania e as escolhas do povo não se coadunam com aquilo que eles pensam.

Podia dizer muito mais, mas basta ler o que foi escrito para, cada um de nós, tirar as respectivas conclusões. Uma tristeza, de facto.


(A imagem foi retirada do post em causa)

terça-feira, 9 de agosto de 2011

Anarchy in the UK

Confesso que nunca tive muita paciência para ver as imagens de supostos “descontentes sociais” que aproveitam todas as oportunidades para lançar o caos onde se encontram. Parece que um programa muito em voga na extrema-esquerda radical - certamente, para honrar os paizinhos que se manifestaram contra o Vietname, fizeram o Maio de 68 ou derrubaram democracias em nome de amanhãs que cantavam – é o de fazer um tour turístico de anarquia, aproveitando a confusão onde ela se instala.

O que se passa em Londres e que se arrasta a outras cidades inglesas, é grave mas, infelizmente, não é novo. Na Europa, a França convive com isso há décadas, fruto de uma política de imigração permissiva, que encheu o País de hordas de descontentes que nunca se sentiram verdadeiramente gauleses. Claro está que o Estado, qualquer que ele seja, também tem culpa, ao não dar melhores condições de vida a quem as procura e ao colocar estas famílias em guetos, isolando-as e mantendo a discrepância social e étnica que ultrapassa gerações.

Lembro-me, há uns anos, de ficar surpreendido quando andava no metro em Paris e ver a Polícia armada com metralhadoras e pronta para combate urbano. Chocou-me o racismo instalado que fazia com que as forças da ordem apenas abordassem africanos e árabes. Hoje, quando vou à capital francesa, a desconfiança relativamente ao outro é ainda pior e está mais acentuada. Infelizmente, esta atitude já não me choca e aceito que, por motivos de força maior, a liberdade seja limitada em nome da segurança – o raciocínio é perigoso, eu sei e pode levar as democracias à ditadura.

Ontem viveu-se a terceira noite de violência e tumultos na capital inglesa e agora o efeito dominó arrasta-se para Birmingham, Liverpool, Nottingham e Bristol. As autoridades estão presas ao politicamente correcto e titubeantes em relação às medidas a tomar. Os media não ajudam, ao falarem em “descontentes sociais” e a tentarem esconder (ou omitir) que isto é, acima de tudo, um problema decorrente da imigração e de segundas e terceiras gerações que nunca se quiseram adaptar a quem acolheu os seus ascendentes.

Isto já lá não vai com o “Keep Calm and Carry On”. O Estado precisa de mostrar que a autoridade existe e que sabe exercê-la. Custe o que custar, a violência tem que parar. E a Europa precisa, urgentemente, de saber retirar as lições do que se passa. Ontem França, hoje Reino Unido. Amanhã, Portugal?

segunda-feira, 8 de agosto de 2011

The Printed Blog



Pode-se estar, de facto, a assistir à next big thing ou apenas a um entusiasmo passageiro, fruto do momento estival que se vive. Mas, pelo que se lê no Facebook , é de acreditar mais na primeira hipótese. A revista The Printed Blog é uma ideia notável de um grupo de pessoas que decidiu ousar – e basta para isso olhar para a capa escolhida - quando tudo no País aponta para que se arrisque o menos possível.

Juntar escrita de qualidade de várias pessoas, quando há tanta coisa boa que se perde nos blogs porque não são conhecidos ou não há tempo para procurar é algo de positivo que se deve louvar. Mesmo que esta não tenha sido uma ideia original – a origem da revista é, como não podia deixar de ser, norte-americana – não se retira o mérito de ser uma boa ideia.

E, se falarmos em termos de comunicação stricto sensu, The Printed Blog tem tudo para ser um projecto empresarial de sucesso. Para más notícias já basta as que se lêem todos os dias.

Novos rumos para as Forças Armadas




A TSF conta que a Força Aérea poderá assumir em 2012 o combate aéreo aos incêndios. A confirmar-se, esta é uma boa notícia que peca por tardia e por insuficiência. Explico.

Desde que os militares regressaram aos quartéis, com o fim da tutela do MFA sobre os partidos políticos, todos os Governos, sem excepção, tudo têm feito para desmantelar as Forças Armadas (FA). Remeteram-nos aos quartéis, retiraram-lhes meios, acabaram com o SMO e, mesmo as compras de equipamento militar efectuadas nos últimos anos, são meros paliativos para uma estrutura que não tinha, praticamente, actualização de meios desde a guerra do Ultramar.

E desde há alguns anos para cá, o Governo e as organizações internacionais de que Portugal faz parte, deixam os nossos militares brincar as guerrinhas, desde que seja com conta peso e medida. Alguns homens colocados no Afeganistão, um C-130 para a Bósnia, alguns supostos conselheiros para África e pouco mais do que isso, apenas para calar as hostes e tentar mostrar, lá fora, que Portugal é um parceiro empenhado.

No meio de tudo isto, qual será o estado de espírito das FA?

Prestaram juramento para servir o País, mas Portugal não os quer. A maioria dos políticos não vê com bons olhos as FA e, tirando algumas excepções dos últimos anos (Paulo Portas é uma delas), os políticos tudo fizeram para colocar as FA a um canto e, se possível, esquecer que “eles” andavam por ali. Sabem que as Revoluções não se fazem sem meios e as Chaimite hoje são óptimas para as fotografias nostálgicas de uma certa esquerda caviar.

Acresce ainda que a população em geral não percebe a importância dos militares. Para o comum dos mortais, Exército, Marinha e Força Aérea são uns senhores gordos e bem alimentados, que fazem pouco, gastam muito e têm benefícios (casas de férias exclusivas, alojamentos privilegiados, boa comida, etc.) e que deviam era trabalhar. Para dizer algo que todos percebam, em termos de rácio, acredito que estão na base da cadeia de desprezo, junto com os fiscais da EMEL e os srs. das Finanças…

A ideia de colocar as FA no combate aos incêndios é, por isso uma boa notícia. Acaba com a pouca vergonha do aluguer de meios aéreos a empresas privadas de amiguinhos, torna a Força Aérea relevante e, aos olhos da população, útil. Resta agora colocar o Exército a limpar e vigiar as matas e a Marinha a fazer o mesmo nas praias. Não será muito difícil certamente e seria um começo de algo muito bom não acham?

sexta-feira, 5 de agosto de 2011

Ajudar quem mais precisa



As medidas enunciadas pelo Governo para o Plano de Emergência Social chocam pela sua simplicidade e bom senso.

Num País como Portugal, onde o luxo de poucos convive com a miséria de muitos, as medidas agora apresentadas irão certamente permitir que esses muitos possam agora ter uma vida um bocadinho melhor.

Resta agora saber se as várias estruturas que irão fazer “isto” avançar, não ficam emperradas pela burocracia, o peso do Estado, ou a inércia de alguma luminária. Se servir de inspiração, fica aqui a dica: diversas instituições ligadas à Igreja Católica, como por exemplo a Sociedade de S. Vicente de Paulo, fazem-no, infelizmente, há já muito tempo. Qualquer dúvida, perguntem a quem sabe ok?

quinta-feira, 4 de agosto de 2011

A exclusão do Paulo



Ao contrário do que aconteceu em 2002, com Durão Barroso, desta vez Paulo Portas não vai para o Conselho de Estado. A proposta do nome do actual MNE só poderia partir do PSD, que optou por Balsemão, Marques Mendes e Menezes.

As coisas são como são e o órgão de aconselhamento do Chefe de Estado não tem a importância que por aí se julga. Serve apenas para isso mesmo: aconselhar o PR quando para tal é solicitado. E, normalmente, tirando situações excepcionais de crise política, os conselheiros podem viver as suas vidinhas normalmente sem que, para isso, sejam muito incomodados por Belém.

Confesso que o que me faz alguma confusão neste processo é que o PSD poderia ter indicado o nome do líder do parceiro da coligação ou, em opção, alguém do CDS. Ao não o fazer e ao optar por uma escolha que, no mínimo, é sui generis – não preciso de dizer qual, pois não? – os sociais-democratas dão um sinal contrário aquilo que a maioria dos eleitores de direita pediram nas eleições: um governo de maioria absoluta com os dois partidos. Não havia necessidade.

quarta-feira, 3 de agosto de 2011

Sem vergonha



O Álvaro estreou-se na Assembleia da República a dizer, olhos nos olhos, que, quando chegou ao Ministério da Economia, ficou chocado com o clima de ostentação que lá se vivia, com carros topo de gama, excesso de pessoal e mordomias várias. E o que disseram os deputados do PS, entre os quais pontuavam muitos com as responsabilidades a que isto chegou? Riam-se alarvemente – se calhar pensaram que estavam no circo - e chegaram ao ponto, como Paulo Campos, aquele ajudante do PS, que colocou incompetentes no seu gabinete e nos CTT, de questionar as escolhas dos colaboradores do ministro.

Este PS não tem vergonha na cara. É a oposição que temos. É o País que temos. Lamentável…

terça-feira, 2 de agosto de 2011

Eu comento, tu críticas, ele censura

É cíclico e já não se devia estranhar. Estando o PSD na oposição ou no Governo, há sempre vozes críticas. Porque o líder da oposição é “frouxo” (Durão Barroso), não tem o “carisma” de Cavaco Silva (Fernando Nogueira), porque se quis coligar com o CDS/PP (Marcelo), porque era “a velha” (Ferreira Leite), etc.,etc., etc.

Os epítetos, nem sempre simpáticos e muitas vezes ditos a coberto do anonimato e amplificados pela Comunicação Social, sempre ávida de uma boa polémica, cilindraram líderes, afastaram amigos, dividiram equipas e provocaram mossa. No PSD, vive-se o drama de ser conhecido como o partido mais português de Portugal, com todos os seus defeitos e virtudes. Quando a hora chega, assumem-se como vizinhas que adoram um bom mexerico.

No poder, a tendência é as críticas esvaírem-se, as pessoas tornarem-se acéfalas e ficarem mais papistas que o Papa. E, claro, quando as vozes críticas surgem a quebrar o suposto unanimismo, aparecem logo umas virgens ofendidas a pedir a cabeça de A, B ou C só porque aquele malandro, ainda por cima militante do partido, disse o que pensava sobre o líder, que pode ser da oposição ou por acaso já primeiro-ministro. Não deixa de ser verdade, porém, que muitas das críticas que ouvimos não têm qualquer sentido e surgem por puro ressabiamento.




Acontece no PSD, como aconteceu no PS, no CDS/PP, no BE e no PCP. Não é novidade.

Confesso que nunca fui de gostar de unanimismos e faz-me impressão que as pessoas achem que têm de se calar ou consentir só porque agora o Governo é outro, mesmo que seja da nossa cor política. Todos os Governos, quaisquer que sejam, mesmo aqueles nos quais votamos, cometem erros. Não são perfeitos. E será sempre bom que os primeiros avisos de que algo não está bem partam de quem votou neles e que, supostamente, terão a sua opinião valorizada porque estas primeiras críticas podem surgir como avisos à navegação para corrigir supostos erros.

Dito isto, também considero que há fóruns próprios para o dizer e é em reuniões partidárias que tudo deve ser falado e esclarecido. Confesso igualmente que me choca ver que os primeiros a atirar a pedra da intolerância contra os seus companheiros partidários são os mesmos que criticam tudo e todos, minam a credibilidade de quem não é da sua corrente no partido e, nas reuniões partidárias, tudo fazem para desacreditar quem não pensa como eles, roçando as vezes a má criação, o insulto e a arrogância.

Não é simpático ouvirmos coisas que não gostamos e choca-nos que às vezes essas críticas sejam feitas por quem, supostamente, deveriam ser os primeiros a apoiar-nos. Mas é importante saber ouvir, perceber o sentido da crítica e demonstrar por actos e acções que o que nos acusam é falso ou admitir que possa ter algum fundo de verdade, quando é esse o caso. Mesmo que isso implique ir contra respeitáveis “políticos-comentadores” ou “comentadores-políticos”…

No PSD, Pedro Santana Lopes percebeu tarde demais que os voluntarismos defensivos de Rui Gomes da Silva por causa das críticas veladas de Marcelo lhe custaram caro. Terá Passos Coelho a capacidade de controlar os seus “papistas” a tempo?

Comunicação, protagonismos e erros de avaliação



Luís Paixão Martins escreve no Briefing que “muitas vezes, os consultores de Comunicação tendem a arrastar os seus aconselhados para aventuras mediáticas apenas porque eles próprios, os consultores, têm ambições de protagonismo. Trata-se de um erro fatal a que podemos chamar da doença infantil das PR”.

O mesmo se aplica quando se fala das decisões do Governo. Já aqui aqui escrevi, anteriormente, que este governo, mais do que decidir, terá que ganhar tempo em comunicar as suas decisões e não se deixar levar pelo deslumbre de um qualquer assessor de imprensa, estratega de comunicação ou político menos experiente que tenha especial gosto em aparecer no telejornal das 20 horas só porque sim.

Para garantir encaixe financeiro imediato, optou-se pelo mais fácil. Começámos com cortes na receita, com aumentos de impostos, com subidas draconianas de preços de serviços essenciais para quem já pouco tem. A decisão de aumentar os transportes públicos e o anúncio de os aumentar outra vez já em Janeiro, sem que isso acompanhe, por exemplo, o fim dos privilégios de administrações regiamente bem pagas, é um sinal grave que pode comprometer as boas intenções do Executivo.

Costuma dizer-se que os Governos se esquecem de ouvir a rua. Em Portugal, a coligação PSD/CDS-PP ainda está a conhecer os cantos à casa e está num período de graça, com uma oposição em cacos. E a rua e a sociedade civil estão praticamente silenciosas.

Mas, se continuar na senda de cortes, a sacrificar sempre os mesmos, sem explicações do seu porquê e escudando-se apenas nas imposições da Troika e de que o país está de rastos, temo que o caminho não seja famoso. O que é pena. Portugal e este Governo têm uma oportunidade de ouro para fazer diferente e fazer a diferença. Seriam muito bom que não falhassem.

(Declaração de interesses: tal como milhões de portugueses contribui, com o meu voto, para a vitória deste Governo).

segunda-feira, 1 de agosto de 2011

Portugal é deles




Por onde quer que se veja a venda do BPN, este processo só tem uma qualificação: vergonha. A compra deste banco, que durante anos sustentou e ainda sustenta alguns barões e baronetes do regime, não indiciava nada de bom. O propósito do mesmo esteve sempre visível: banco português de negócios. Podiam mesmo ter mudado de negócios para negociatas que o resultado seria o mesmo.

Depois do escândalo, o Governo socialista decidiu nacionalizar e enterrou literalmente milhares de milhões de euros num banco cuja viabilidade financeira há muito que não existia. Veio o agravar da crise, as eleições e o problema acaba por ter de ser resolvido pelo actual Executivo.

A compra do BPN por capitais angolanos já não devia surpreender ninguém. No final de contas, o regime de Luanda é conhecido pela sua concentração de milionários no seio do Governo e das Forças Armadas, num país onde a maioria da população vive com enormes dificuldades económicas e com fome.

Nada que faça preocupar a suposta elite do regime, que compra tudo o que pode, gasta o que não é deles e tem a suprema lata de pedir auxílio para campanhas internacionais de ajuda ao seu povo, enquanto se esquece de pagar a sua dívida externa.

E lá vamos, cantando e rindo. E chegamos a este ponto. O Estado tentou libertar-se de um peso morto e a que custo. Destaco: vende por 40 M€ um banco no qual enterrou 2,4 mil M€; tem de assumir o que irá fazer a mais de metade dos trabalhadores do BPN, incluindo pagar indemnizações e rescisões; antes de o vender, o Estado terá de injectar mais 550 M€ no BPN.


Durante a Guerra do Ultramar, os soldados Portugueses que embarcavam nos paquetes na Rocha Conde d´Óbidos para combater em África ouviam recorrentemente uma música que, no refrão apelava ao sentimento pátrio e dizia-lhes que “Angola é nossa”.

Ironia do destino, 36 anos depois da independência a Angola, são os angolanos que podem dizer que “Portugal é nosso”. É triste.