quinta-feira, 14 de janeiro de 2010

A falácia minoritária*


Desde que o PS ganhou as eleições, o País parece estar em suspenso à espera que o Governo provoque a sua própria queda, que a Oposição lance uma moção de censura, ou que o Presidente da República considere que o Governo já não serve os interesses do País. Nada mais errado.

Se é verdade que, para a maioria dos Portugueses, o acto eleitoral de Outubro constituiu o fim de um sonho, tal não quer dizer que, nas próximas eleições, ir-se-á corrigir uma situação que, para os olhos de muitos, é irreal. E engana-se quem pensa que esta é a melhor opção: a ameaça de eleições antecipadas, agrada, para já, ao Governo - pode vitimizar-se e apostar na comunicação e no marketing. E, pelo caminho, não faz aquilo para o qual foi eleito: governar.

Este ano é, portanto, propício aos melhores cenários catastrofistas. O Executivo escuda-se que a Oposição não o deixa governar e esta parece alheada da sua real função. Pelo meio, vão sendo lançados fait divers – como a questão do casamento homossexual – que alegram as hostes, entretêm os media, sossegam a maralha e nos afastam, enquanto País, das nossas prioridades.

Nesse sentido, é essencial que o Governo não se escude no argumento que não consegue cumprir o seu programa à custa da Oposição. Parece que só agora é que descobriram que é difícil governar sem maioria, esquecendo-se que Guterres o fez durante 6 anos, tendo saído apenas por vontade própria. E até mesmo Cavaco Silva aprovou várias leis no seu primeiro governo minoritário, caindo apenas devido a uma moção de censura do PRD.

A História não se repete. E, em Política, muito menos. Convinha, por isso, a cada um dos actores da cena Política Nacional, fazer o que deles se espera. Ao Governo, encontrar consensos e governar; à Oposição, fazer o seu caminho de forma construtiva, apoiando quando deve fazê-lo e criticando quando é necessário. Para garante das instituições, temos o Chefe de Estado que saberá, melhor do que muitos, quais os passos que pode dar.

Querer desencadear eleições apenas porque sim é um erro que se pagará caro. O PSD, enquanto maior partido da oposição tem responsabilidades acrescidas nesta matéria e deve apresentar-se ao eleitorado como a alternativa responsável de Poder. Infelizmente, o mesmo não pensaram a maioria dos eleitores em Outubro último e o resultado está à vista. Possa também o PSD aprender com o passado e não cair na tentação da falácia minoritária. Em Política, como na vida, os erros pagam-se caro.
*Artigo de opinião publicado no site do Instituto Francisco Sá Carneiro. Também disponível aqui: