segunda-feira, 29 de dezembro de 2008

Crime sem castigo


Depois do suspense criado, que levou o PR a parar meio mundo nas férias de Verão por causa do Estatuto dos Açores, após ter-se dado ao trabalho de fazer saber que podia, quase impunemente, deixar cair este mesmo Estatuto que nada de sancionatório iria ocorrer, afinal parece que Cavaco Silva vai mesmo promulgar este famigerado diploma do Governo.

E, embora não concorde com o mesmo, vai dar-se ao trabalho de explicar (novamente!!) aos Portugueses porque é que toma esta decisão. Parem as máquinas, dir-se-ia na gíria jornalística!

No meio de um Natal em crise, de um fim-de-ano sombrio e de um 2009 cheio de incertezas, está-se mesmo a ver que o País vai parar para ouvir o que o Senhor Presidente da República tem a dizer sobre esta matéria. Que, aliás, para o comum dos mortais, é explícita e prioritária!

Eu acho que, por este andar, os Portugueses só começam a levar a sério o Chefe de Estado quando Cavaco Silva for consequente com o alegado clima de guerrilha institucional que parece estar a agravar-se. Até lá, é um bocado como o Dr. Jorge Sampaio. Ninguém o levava muito a sério até ao dia em que mostrou que tinha poder, vontade e força para dissolver a Assembleia da República.

terça-feira, 23 de dezembro de 2008

Com a devida vénia ao jornal Público


Enviaram-me este artigo, desconheço a data, mas está mais actual do que nunca. Os créditos da imagem, que se aplica a este artigo como uma luva, são do Expresso.




SÓCRATES E A LIBERDADE, por António Barreto in "Publico"


EM CONSEQUÊNCIA DA REVOLUÇÃO DE 1974 , criou raízes entre nós a ideia de que qualquer forma de autoridade era fascista. Nem mais, nem menos. Um professor na escola exigia silêncio e cumprimento dos deveres? Fascista! Um engenheiro dava instruções precisas aos trabalhadores no estaleiro? Fascista! Um médico determinava procedimentos específicos no bloco operatório? Fascista! Até os pais que exerciam as suas funções educativas em casa eram tratados de fascistas. Pode parecer caricatura, mas essas tontices tiveram uma vida longa e inspiraram decisões, legislação e comportamentos públicos. Durante anos, sob a designação de diálogo democrático, a hesitação e o adiamento foram sendo cultivados, enquanto a autoridade ia sendo posta em causa. Na escola, muito especialmente, a autoridade do professor foi quase totalmente destruída.

EM TRAÇO GROSSO, esta moda tinha como princípio a liberdade. Os denunciadores dos 'fascistas' faziam-no por causa da liberdade. Os demolidores da autoridade agiam em nome da liberdade. Sabemos que isso era aparência: muitos condenavam a autoridade dos outros, nunca a sua própria; ou defendiam a sua liberdade, jamais a dos outros. Mas enfim, a liberdade foi o santo e a senha da nova sociedade e das novas culturas. Como é costume com os excessos, toda a gente deixou de prestar atenção aos que, uma vez por outra, apareciam a defender a liberdade ou a denunciar formas abusivas de autoridade. A tal ponto que os candidatos a déspota começaram a sentir que era fácil atentar, aqui e ali, contra a liberdade: a capacidade de reacção da população estava no mais baixo.

POR ISSO SINTO INCÓMODO em vir discutir, em 2008, a questão da liberdade. Mas a verdade é que os últimos tempos têm revelado factos e tendências já mais do que simplesmente preocupantes. As causas desta evolução estão, umas, na vida internacional, outras na Europa, mas a maior parte residem no nosso país. Foram tomadas medidas e decisões que limitam injustificadamente a liberdade dos indivíduos. A expressão de opiniões e de crenças está hoje mais limitada do que há dez anos. A vigilância do Estado sobre os cidadãos é colossal e reforça-se. A acumulação, nas mãos do Estado, de informações sobre as pessoas e a vida privada cresce e organiza-se. O registo e o exame dos telefonemas, da correspondência e da navegação na Internet são legais e ilimitados. Por causa do fisco, do controlo pessoal e das despesas com a saúde, condiciona-se a vida de toda a população e tornam-se obrigatórios padrões de comportamento individual.

O CATÁLOGO É ENORME. De fora, chegam ameaças sem conta e que reduzem efectivamente as liberdades e os direitos dos indivíduos. A Al Qaeda, por exemplo, acaba de condicionar a vida de parte do continente africano, de uma organização europeia, de milhares de desportistas e de centenas de milhares de adeptos. Por causa das regulações do tráfego aéreo, as viagens de avião transformaram-se em rituais de humilhação e desconforto atentatórios da dignidade humana. Da União Europeia chegam, todos os dias, centenas de páginas de novas regulações e directivas que, sob a capa das melhores intenções do mundo, interferem com a vida privada e limitam as liberdades. Também da Europa nos veio esta extraordinária conspiração dos governos com o fim de evitar os referendos nacionais ao novo tratado da União.

MAS NEM É PRECISO IR LÁ FORA. A vida portuguesa oferece exemplos todos os dias. A nova lei de controlo do tráfego telefónico permite escutar e guardar os dados técnicos (origem e destino) de todos os telefonemas durante pelo menos um ano. Os novos modelos de bilhete de identidade e de carta de condução, com acumulação de dados pessoais e registos históricos, são meios intrusivos. A vídeovigilância, sem limites de situações, de espaços e de tempo, é um claro abuso. A repressão e as represálias exercidas sobre funcionários são já publicamente conhecidas e geralmente temidas. A politização dos serviços de informação e a sua dependência directa da Presidência doConselho de Ministros revela as intenções e os apetites do Primeiro-ministro. A interdição de partidos com menos de 5.000 militantes inscritos e a necessidade de os partidos enviarem ao Estado a lista nominal dos seus membros é um acto de prepotência. A pesada mão do governo agiu na Caixa Geral de Depósitos e no Banco Comercial Português com intuitos evidentes de submeter essas empresas e de, através delas, condicionar os capitalistas, obrigando-os a gestos amistosos. A retirada dos nomes dos santos de centenas de escolas (e quem sabe se também, depois, de instituições, cidades e localidades) é um acto ridículo de fundamentalismo intolerante. As interferências do governo nos serviços de rádio e televisão, públicos ou privados, assim como na 'comunicação social' em geral, sucedem-se. A legislação sobre a segurança alimentar e a actuação da ASAE ultrapassaram todos os limites imagináveis da decência e do respeito pelas pessoas. A lei contra o tabaco está destituída de qualquer equilíbrio e reduz a liberdade.

NÃO SEI SE SÓCRATES É FASCISTA. Não me parece, mas, sinceramente, não sei. De qualquer modo, o importante não está aí. O que ele não suporta é a independência dos outros, das pessoas, das organizações, das empresas ou das instituições. Não tolera ser contrariado, nem admite que se pense de modo diferente daquele que organizou com as suas poderosas agências de intoxicação a que chama de comunicação. No seu ideal de vida, todos seriam submetidos ao Regime Disciplinar da Função Pública, revisto e reforçado pelo seu governo. O Primeiro-ministro José Sócrates é a mais séria ameaça contra a liberdade, contra autonomia das iniciativas privadas e contra a independência pessoal que Portugal conheceu nas últimas três décadas.

TEMOS DE RECONHECER: tão inquietante quanto esta tendência insaciável para o despotismo e a concentração de poder é a falta de reacção dos cidadãos. A passividade de tanta gente. Será anestesia? Resignação? Acordo? Só se for medo...

Uma boa ideia vinda de Mafra


A Câmara Municipal de Mafra (CMM) aprovou uma medida que, para além de simplificar em muito a vida dos seus munícipes, facilita igualmente a vida aos seus trabalhadores. Conta o jornal Público hoje que, a partir de Janeiro, a CMM vai passar a encerrar à sexta-feira todos os serviços que funcionam no edifício dos Paços do Concelho. O truque, para o fim-de-semana prolongado, passa por aumentar o horário de atendimento nos restantes dias - cumprindo-se assim as 35 horas. É um ovo de Colombo!


Ganham os funcionários, que passam a ter mais um dia, ganham os munícipes que podem agora recorrer aos serviços durante os restantes dias da semana a um horário mais alargado. E ganha a própria Câmara, porque, se os serviços estão fechados não há gasto de água, luz e afins.


Uma exelente ideia que é de louvar e esperar que a mesma possa ser aplicada nas várias Câmaras Municipais do País.

Lisboa a aquecer


Santana Lopes tem este efeito formidável: mal mete a cabeça de fora, começam as preocupações de terceiros em relação não apenas ao que o ex-PM pode fazer ou dizer, mas acima de tudo, ao que, de facto, pode realmente conseguir.

Já aqui escrevi que não acho que as eleições em 2009 em Lisboa sejam favas contadas, nem para António Costa, nem para Santana Lopes. Aliás, começo a pensar que, se o PS e a esquerda continuam a dar tiros nos pés à velocidade que estão, Santana regressará triunfalmente a Lisboa.

A história lançada por Costa da Cigarra e da Formiga não lembra ao careca. E Costa tem um handi cap brutal que se chama José Sá Fernandes que, agora repudiado pelo Bloco, tudo fará para se colar ao PS.

Se juntarmos a isso a desunião mais que provável da esquerda - com Helena Roseta a avançar em listas próprias e/ou com o apoio do BE, temos os ingredientes que poderão, desde logo, fazer tremer o barco. Acresce ainda que há a possibilidade, real, do PSD e CDS irem juntos em Lisboa, o que poderá ter como resultado o regresso da direita à capital. Como insistem em dizer os seus críticos, Santana nem precisará de fazer o papel de vítima e lembrar que os seus últimos anos de responsabilidades Executivas foram, acima de tudo, uma enorme sacanagem contra o próprio.

Pressa para chegar ao Poder

Na Guiné Conacri, o Presidente do país, general Lansana Conté, morreu ontem à noite aos 74 anos, após 24 anos à frente dos destinos do país. Hoje os guineenses deste pequeno país acordaram ao som de tiros. Um golpe de Estado está em curso. É o que se pode chamar pressa para chegar ao Poder...

quinta-feira, 18 de dezembro de 2008

Com a devida vénia ao Diário de Notícias...

CDS: AINDA MAIS PEQUENO?
Maria José Nogueira Pinto

A desfiliação de dezenas de militantes do CDS, muitos dos quais foram obreiros do Partido ao longo da sua história, coloca questões interessantes. A primeira tem a ver com a estratégia de redução ao silêncio de todas as vozes discordantes em que, agora, também se inclui Nobre Guedes, compagnon de route de Paulo Portas desde os tempos em que Manuel Monteiro, seguindo à risca os conselhos da empresa inglesa que fez o estudo de relançamento do partido no extertor do cavaquismo, se lançou num populismo simpático, de fácil digestão e, como se viu, tão eficaz na altura, como inócuo depois.
A opção por este pequeno mar da Palha à direita só se pode justificar como um instinto de sobrevivência colectivo - e não exclusivamente pessoal, do seu líder - se dermos como certa a suspeita de que o CDS não tem, neste momento, dimensão, massa critica, vitalidade, pensamento e estratégia que o justifiquem como força política representativa no espaço da direita. O partido é, então, o Dr. Paulo Portas, a sua cartola e os coelhos que restam. Melhor que nada, dirão alguns, sobretudo na perspectiva de se poderem constituir nas migalhas que, juntas ao bolo, podem ter uma inesperada utilidade, seja o bolo do PS seja o bolo do PSD. Neste ponto não podemos deixar de nos interrogarmos se haveria alternativa a este modelo personalizado de um chefe e uma corte, modelo exclusivamente assente na capacidade de este esporadicamente cavalgar, com reconhecido talento, as vicissitudes políticas do momento.
Mas não deixa de ser verdade que o mero instinto de sobrevivência a que o partido se tem reduzido é curto, e até mesmo inexplicável, num momento em que o espaço da direita parece desertificar-se. A própria situação do PSD poderia ter encorajado uma recomposição interna, uma clarificação doutrinária, o refazer de um distinguo? Ou a identidade ideológica, o núcleo duro de princípios distintivos são irrelevantes neste "jogo de cadeiras" pre-eleitoral? Esta dúvida, só resolvida nas próximas eleições, é pertinente se pensarmos em como estaria, hoje, o CDS se Ribeiro e Castro tivesse podido prosseguir o seu trabalho, interna e externamente, à frente do partido.
Por outro lado, este movimento de desfiliação confirma a ideia de que a implosão dos partidos é uma possibilidade, tal como o é uma derrota eleitoral. Ou seja, as clarificações, reajustamentos ou refundações podem acontecer, também, por esta via. Questão que interessa particularmente num momento em que a direita e o centro-direita se distinguem, apenas, por constituir uma não alternativa, criando uma ausência de escolha e, consequentemente, privando de representação o seu eleitorado natural em véspera de sucessivos actos eleitorais. Tudo em nome do equilíbrio interno dos pequenos poderes pessoais e das ameaças latentes de golpes palacianos.
O que acontece, entretanto, à esquerda torna tudo isto mais grave, mais sério. A cisão da ponta esquerda do PS significa, quer se queira quer não, o fim do partido tal como sempre o conhecemos. Privado de bandeiras ideológicas, mesmo que hoje caídas em desuso pelo primado da política de mercearia, o PS perde capacidade representativa e, desbotado nas suas cores, perde também muita da sua carga simbólica, à esquerda. A eventual junção desta ponta esquerda a outras forças, como o BE, pode constituir uma surpresa eleitoral num ano em que uma parte significativa dos portugueses se confronta com o gorar de expectativas e esperanças. Um grande contentor de descontentamentos e frustrações a que Alegre dará a chancela política que falta. A ser assim, o PS social-democrata virá à conquista do eleitorado órfão do centro e, também, da direita, em nome das reformas e da estabilidade.
Por fim, a dúvida de como evoluirá a crise no primeiro semestre de 2009, por um lado, e de que forma os portugueses manifestarão o seu descontentamento por outro. Usando um voto punitivo ou, simplesmente ficando em casa?

quarta-feira, 17 de dezembro de 2008

A opção de José Paulo Carvalho


Uma nota inicial: tenho estima pessoal pelo deputado José Paulo Carvalho. Acho que é uma pessoa de causas, que luta pelo que acredita e calculo que não deve ter tido uma vida muito fácil na Assembleia da República enquanto deputado minoritário, que apoiava Ribeiro e Castro numa bancada "portista".


José Paulo Carvalho decidiu desfiliar-se do CDS/PP, um direito que lhe assiste. Mas, justifique o que quiser justificar, o condenável é manter-se no lugar de deputado. Explico.


José Paulo Carvalho não é deputado desde o início da legislatura - não "ganhou" o lugar - tendo substituído um colega de bancada. Ou seja, embora os deputados apenas respondam por si, no caso concreto José Paulo Carvalho deve o lugar que ocupa ao partido pelo qual até há pouco tempo era militante. Embora não tenha que o fazer, moralmente, deveria entregar o lugar ao partido. Ao não o fazer, mostra que, afinal não é muito diferente de tantos outros que aí andam. Está agarrado ao tacho. É pena.

O fim de Santana?


O PSD confirmou aquilo que há muito já se sabia: Santana Lopes é o candidato à Câmara de Lisboa. Algumas notas sobre esta decisão:


1 - Santana é um animal político e, à semelhança do que aconteceu em 2001, poderá surpreender tudo e todos, até porque, como se sabe, a gestão socialista na CML tem sido tudo menos pacífica.


2 - Se Santana ganhar, ganha também o PSD e também Ferreira Leite, que vê, contra todas as possibilidades, os sociais-democratas reconquistarem a maior câmara do País.


3 - Se Santana perder, não terá grandes margens de manobra de se insurgir contra a actual liderança que, apesar de ter tudo para o colocar de lado, lhe deu um novo palco para brilhar.


4 - Ainda se Santana perder, o ex-PM perde também todos os palcos políticos mediáticos. Em primeiro lugar porque não estou a ver Santana a ficar vereador numa casa que já mandou. E, em segundo lugar, porque é imposição do partido que os candidatos autárquicos não sejam candidatos a deputados, o que quer dizer que Santana perderá o palco da AR.


5 - Não sou ingénuo e sei que a aposta em Santana Lopes por parte de Ferreira Leite teve naturalmente, água no bico. Agora também sei que Santana foi várias vezes dado como politicamente morto e tem mostrado capacidade de ressuscitar quando menos se espera.


Por isso, continuo a dizer que nada está perdido em Lisboa e Santana até pode acabar por se revelar uma boa escolha. Resta saber se era isso que Ferreira Leite tinha em mente quando convidou o ex-PM para este desafio eleitoral.

segunda-feira, 15 de dezembro de 2008

Contestação a preço de saldo II

Enquanto na Grécia os jovens compram pedras a um euro, o Governo encomendou a Israel mais gás lacrimogéneo. É a Lei da Oferta e da Procura a funcionar.

Contestação a preço de saldo I

Os tumultos na Grécia estão de tal ordem que agora já se vendem pacotes de três pedras a um euro para os jovens manifestantes atirarem à polícia. Quem é que disse que o capitalismo estava morto?

Dar à sola




Durante uma conferência de imprensa em Bagdad, um jornalista iraquiano tentou atingir George W. Bush com sapatos ao mesmo tempo que lhe chamava de cão, dois insultos que têm muito significado para os árabes e que representam o pior que se pode dizer de alguém. Não deixa de ser irónico que, no momento em que George W. Bush se despede da Presidência norte-americana a imagem que ficará é a de uns sapatos a serem atirados ao líder máximo da maior super-potência. Altura de dar à sola, portanto.

A marcha alegre das esquerdas


Manuel Alegre arrisca-se a ficar conhecido como o coveiro das esquerdas. Explico. Dizem os jornais hoje que o histórico socialista deixou em aberta a possibilidade de o Fórum das Esquerdas poder servir para lançar as bases de uma esquerda descontente que não se revê no actual PS e não vota no folclore bloquista e no monolitismo comunista.

Tudo teria sentido não fora um senão: o Bloco não vai entrar nesse comboio, o PC vai ser um partido que irá subir eleitoralmente em 2009, a Refundação Comunista são meia dúzia de optimistas e, para finalizar, o próprio Manuel Alegre não se irá arriscar a sair da zona de conforto que o PS lhe dá.

Sempre achei que Alegre era comunista de coração e socialista de oportunidade. E o capital de um milhão de votos que o poeta desperdiçou nas últimas eleições presidenciais, bem como os avanços e recuos que tem feito - para além das falsas promessas e expectativas que tem criado a toda uma esquerda descontente - irão fazer que o tiro saia a estes utópicos pela culatra.

Não só Alegre não vai fundar um novo partido, como será "recompensado" pelo PS quando os ventos de mudança atingirem este partido. Aí Alegre será apaudido de pé por ter levado os socialistas de volta à pureza inicial do partido. E conhecendo-se a vaidade da personagem, Alegre já sonha com esse momento em que será reconhecido como o herdeiro natural e responsável pelo regresso à fossilização socialista. Com novidades destas à esquerda e com as complicações que existem à direita, José Sócrates bem pode dormir descansado.

A solidão do CDS


Luís Nobre Guedes não conseguiu ser eleito para o próximo congresso do CDS/PP por dois votos. Assim sendo, a moção que ia apresentar não será discutida.

A meu ver, é pena. Não porque entenda que Nobre Guedes terá toda a razão do seu lado. Ou parte dela, for the sake of argument.

A única vantagem que eu veria nesta discussão é que, um partido que está na oposição e que tem ambições de ser Poder deve, enquanto oposição, dar-se ao luxo de discutir tudo, para encontrar as melhores formas e vias que o levem a atingir o objectivo que se propõe.

Posso estar enganado, mas Nobre Guedes era isso que pretendia, porque a liderança de Paulo Portas não está (ou estava) em causa.

Ao fecharem-se sobre si mesmos, discutindo apenas aquilo que o líder entende ser o caminho - e Portas já mostrou, melhor do que ninguém que, mesmo nos piores momentos, ele é o motor do CDS - os populares poderão cair num erro que lhes pode sair caro.

Por dois motivos: se o CDS descer em termos eleitorais, haverá certamente muitos dos que neste momento apoiam Portas que o quererão apear porque não foram eleitos na exígua lista de deputados prováveis que o CDS deverá obter.

Se inversamente, a coisa correr bem, Portas acabará por servir de muleta a um PS que não obteve a maioria (num Governo?) ou a um PSD que por milagre ganhou as eleições. E, em qualquer um destes cenários, não foi para isso que os eleitores do CDS votaram no partido.

quinta-feira, 11 de dezembro de 2008

Deve ser por isso que é considerado o pior ministro das Finanças dos 27...

Governo admite que o défice para 2009 poderá chegar aos 3% em 2009 (depois de ter avançado com o número de 2,2%...).

Coragem, ousadia ou mera loucura?


Pode-se dizer o que se quiser de Paulo Portas, mas há que lhe tirar o chapéu à sua ousadia política. Num partido que nunca é favorecido pelas sondagens e que, apesar da crise que se vive no PSD, não tem conseguido crescer eleitoralmente, a intenção anunciada de não fazer coligações e avançar sozinho para as eleições legislativas é, até ver, um acto de coragem política.


E embora não seja a minha força política, tenho a certeza que, se as coisas correrem de feição, o CDS/PP arrisca-se a voltar a ser determinante para um próximo Governo. Recordo apenas isto: Em 2002, com tudo a correr de feição para o PSD, ninguém dava nada pelos populares e, de repente, o CDS/PP conseguiu chegar ao Governo.


Em 2009, apesar desse cenário estar, para já, afastado, poderá o CDS vir a ser a muleta do PS?

É por essas e por outras que não há credibilidade nos políticos


Ainda a polémica sobre as faltas dos deputados do PSD. A melhor desculpa que ouvi até agora veio do deputado Jorge Neto, na foto.


Diz a personagem que não esteve presente nas votações porque, alegou, estava em "trabalho político", uma justificação que, como se sabe, serve de guarda-chuva para as maiores alarvidades. E que trabalho político era este?


A TSF conta que Jorge Neto esteve presente num jantar do Boavista Futebol Clube - o tal "trabalho político", supomos - e, como não tem nada a esconder, diz aos microfones desta rádio esta frase notável: «O jantar acabou de madrugada porque a seguir ainda houve um leilão, portanto, para vir participar na votação de sexta-feira provavelmente teria que fazer uma directa ou então dormir três horas para regressar a Lisboa, o que manifestamente é, no mínimo, desumano».


Desumano? Isso é o que muitos em Portugal e no mundo fazem. Deitam-se tarde porque têm prazos a cumprir na entrega de projectos e ou documentos, deitam-se tarde porque os filhos não chegam, porque sairam tarde do trabalho ou, hélas, porque tiveram um jantar ou uma borga, deitaram-se tarde e no dia a seguir é outro dia. Como eu costumo dizer, o trabalho não tem culpa do lazer que nós usufruímos. O mal desta gente, é que anda muito mal habituada!!


(Não quero mentir, mas salvo erro Jorge Neto foi um dos deputados que alegou trabalho político numa famosa ida ao estrangeiro há uns anos para ver um jogo do Futebol Clube do Porto. A tradição mantém-se...)

quarta-feira, 10 de dezembro de 2008

Ensaio sobre a cegueira


Apesar de se sentir cansado com a guerra com os professores, José Sócrates diz que não irá ceder e por isso, não está previsto suspender a avaliação dos professores. Não sei porquê, mas ao ver isto, só me lembrava da imagem do último Governo de Cavaco Silva e os tumultos da Ponte sobre o Tejo...

Irresponsabilidades laranjas


A polémica está a ser maior do que, de facto, realmente é. Claro que a baldice dos deputados a uma sexta-feira, dia de votações, para aproveitar um fim-de-semana prolongado é grave. Daí a pedir-se a demissão de Paulo Rangel por causa disso é querer que o líder parlamentar do PSD seja o papá de um grupelho de fedelhos irresponsáveis.


Espera-se que a culpa não morra solteira e que os deputados que faltaram sem qualquer justificação aparente sejam identificados e sancionados. No final de contas, nas contas das votações (passe a redundância), perdeu-se uma oportunidade para, pelo menos, repensar um processo que está a dar muita polémica: a avaliação dos professores.


Manuela Ferreira Leite esteve bem a segurar o seu líder parlamentar. Mas também esteve igualmente bem ao não deixar o assunto cair no esquecimento. Porque, embora o trabalho parlamentar seja, em muitos casos, invisível e até mesmo incompreensível para o comum dos mortais, o facto é que esta polémica (criada muito pelos media, diga-se) em nada contribui para a imagem da política e dos políticos.

quarta-feira, 3 de dezembro de 2008

É desta que compro o Porsche...


«O plano de ajuda ao sector automóvel, anunciado esta quarta-feira pelo Governo vai custar 900 milhões de euros. Este plano tem quatro componentes e envolve linhas de crédito, apoios à formação profissional e incentivos à compra de carros», diz a TSF.

Ironias à parte




Não deixa de ser irónico que, entre todos os locais possíveis, o PCP tenha escolhido o Campo Pequeno para o seu congresso. Não está mal, para quem, nos anos 70, queria "partir as fuças à reacção" e mandá-la abater, justamente, no... Campo Pequeno!


Como eu dizia a um amigo meu que, apesar de ser uma excelente pessoa, lamentavelmente se filiou recentemente neste partido, este fim-de-semana foi uma oportunidade histórica perdida. Desta vez, obviamente, à direita.

Com a devida vénia ao Luciano e ao Público...

... transcrevo aqui o artigo de opinião do Luciano Alvarez na edição de hoje do Público. Na mouche, diria eu.

«A moribunda cooperação começa a resvalar para o pântano


03.12.2008, Luciano Alvarez


Ainda em campanha para as presidenciais de 2006, Cavaco Silva lançou uma nova expressão no léxico político português: "cooperação estratégica". Duas palavras que repetiu várias vezes já depois de eleito e que queriam dizer que o Governo podia contar com a sua colaboração para ajudar a resolver os problemas do país. José Sócrates, que saiu dessas eleições fragilizado por Alegre ter tido uma votação superior a Soares, agarrou a ideia com as duas mãos e jurou que também o Presidente podia contar com ele para a tal cooperação.

Após as primeiras divergências políticas entre Cavaco e Sócrates, o Presidente manteve a expressão como válida. O primeiro-ministro nunca a renegou no seu todo, mas, subtilmente, ele e outros dirigentes socialistas começaram a chamar-lhe "cooperação institucional". Alberto Martins, em Outubro, numa entrevista ao programa Diga lá, Excelência, explicava mesmo que preferia a expressão "cooperação institucional" por ela reflectir melhor a interdependência dos poderes prevista na Constituição.

José Sócrates e Cavaco Silva têm uma visão diferente da palavra "cooperação". Para o Presidente, significa uma forma estratégica de juntar vontades, forças e acções para resolver os problemas do país no âmbito das competências constitucionais de cada instituição. Já para Sócrates ela é absolutamente institucional: admite boas vontades, mas as políticas e as decisões são suas, como manda a Constituição, dispensando, porém, qualquer tipo de acções e até opiniões contrárias. Mesmo quando se trata de deliberações que parecem revelar objectivos de amiguismo político, como é o caso do Estatuto dos Açores, ou quando elas têm fins meramente eleitoralistas, vale primeiro a política do "quero, posso e mando" há muito aplicada pelo líder do executivo.

Na verdade, a cooperação entre Belém e São Bento está moribunda há já bastante tempo, embora nenhum dos inquilinos destes palácios o admita. Não é que daqui venha um grande mal ao chamado "regular funcionamento das instituições". Basta conhecer minimamente o pensamento político e a forma de estar na política de Cavaco Silva e Jóse Sócrates para se saber que estes dois homens nunca poderiam ter um entendimento profundo.

Já graves são os sinais que começam a surgir de que há uma estratégia do PS para atacar o Presidente da República, enquanto político e enquanto cidadão. Uma estratégia que vai além da intransigência de mexer no texto do Estatuto dos Açores, que o chefe de Estado vê como fundamental e divide mesmo alguns socialistas, ou do simples facto de não adoptar um mecanismo de acompanhamento da nova Lei do Divórcio, como sugeriu Cavaco. Quando um adjunto directo do primeiro--ministro vem a público criticar o Presidente da República, no final de Outubro, por ter vetado, ao abrigo os seus direitos constitucionais, o Estatuto dos Açores, enquanto o primeiro--ministro se refugia no silêncio; ou quando José Lello, dirigente do PS e um dos conselheiros do Sócrates, refere a existência de rumores sobre Cavaco Silva e o BPN, já não se trata de haver ou não cooperação. Trata-se de puro terrorismo político.

Atacar desta forma o Presidente para dar ideia de que há divergências ideológicas profundas entre Cavaco e Sócrates pode até valer alguns votos à esquerda nas eleições do próximo ano. Mas também cria desconfiança e acinte entre os líderes de duas instituições que, mesmo não cooperando estrategicamente ou institucionalmente, têm forçosamente de se entender sobre matérias importantes. E como esses sentimentos estão em cima da mesa, não há entendimentos possíveis. Haverá apenas o pântano em que alguém ficará atolado».

Será a primeira baixa? Ou uma nova oportunidade de emprego?


A notícia de que António Sampaio e Mello saiu da liderança do Gabinete de Estudos do PSD para aceitar uma proposta irrecusável nos EUA é, no melhor cenário, apenas uma boa notícia para o próprio.


Explico. A serem verdade os boatos de que Sampaio e Mello não terá gostado do protagonismo dado pela Direcção Nacional do PSD a Alexandre Relvas e ao Instituto Francisco Sá Carneiro e que, por isso, aproveitou a oportunidade norte-americana para mudar de ares, mostra que algo de muito errado se passa.

Até pode não ter nada a ver a contestação que se começa a fazer sentir em alguns sectores do PSD a esta liderança com a saída de Sampaio e Mello. Se assim for, até pelo respeito que Sampaio e Mello nutre pela líder do PSD, deveria publicamente desmentir alegadas divergências.

Mas o facto é que esta retirada de cena do responsável - numa altura em que Ferreira Leite começa a estar sob fogo cerrado - poderá indiciar que a prazo existirão novidades no PSD.

Já se sabia que os sociais-democratas têm alguma dificuldade em conviver entre si na oposição. Veja-se, no passado, o que aconteceu com Marcelo, Durão e Nogueira. Mas agora - certamente fruto da voragem dos media - os líderes do PSD parecem não conseguir aguentar-se no cargo. Ferreira Leite terá ainda margem de manobra para inverter a tendência?

terça-feira, 2 de dezembro de 2008

A não perder...

... o artigo do João Miguel Tavares no Diário de Notícias de hoje. Pode ser visto aqui:

http://dn.sapo.pt/2008/12/02/opiniao/a_logica_conspira_contra_dias_lourei.html

O desafio inútil da paridade


O jornal Público escreve hoje um artigo muito interessante sobre a Lei da Paridade que irá obrigar os partidos políticos Portugueses a ter pelo menos 33% de mulheres nas listas para as eleições. Eu, se fosse mulher, ficaria indignado por ser eleito ao abrigo desta lei. Sinceramente.




Não deixa de ser verdade que há poucas mulheres na política - para isso basta ver a actual composição na AR ou nas Câmaras Municipais. Mas a situação, a meu ver, não se resolve por quotas. As pessoas deveriam ir para os cargos porque são competentes e não por uma questão de género. Claro que se poderá sempre argumentar que mesmo sem paridade há muita gente incompetente a ocupar cargos públicos. É verdade.




Agora, penso que o caminho não passa por aí. Jà não falo sequer na dificuldade que os partidos mais pequenos vão ter para cumprir esta Lei (imagino o calibre das pessoas que irão ocupar cargos públicos ao abrigo desta lei...). Falo na impossibilidade prática de cumprir esta lei, pelo menos, à luz do princípio (mais ou menos) nobre para o qual foi criada. Mulher, mãe e política? Parece-me fruta a mais.




Como dizia alguém com alguma graça sobre esta matéria, a verdadeira paridade só existirá quando começarem a ser nomeadas mulheres incompetentes para cargos de chefia. Com esta lei estaremos seguramente mais próximos...