quarta-feira, 26 de novembro de 2008

Assobiar para o ar

A novela BPN ainda vai no início e já há inúmeros indícios de que algo de podre vai no reino. A celeridade com que se procedeu à nacionalização do banco, que só tem paralelo com a fobia estatizante dos tempos de Vasco Gonçalves, mostra que há mais interesse em esconder factos do que propriamente em revelá-los. E, se dúvidas houvesse, bastava ver os acontecimentos desta semana com o Banco Privado Português.

Ao contrário do BPN, o Estado opta por deixar cair o BPP, ao anunciar que o banco de João Rendeiro não vai receber o aval do Estado. O destino, já se adivinha, é a mais que provável falência da instituição. Teixeira dos Santos, na sua magnificência, já declarou que uma eventual falência do BPP não provoca risco sistémico. O que diz tudo o que o Estado pensa sobre a questão.

Inversamente, e apesar do manto de silêncio que se quis criar, todos os dias parecem existir novidades no BPN. Como contribuinte que está a pagar a nacionalização de um banco que, afinal, parece que era uma espécie de agência de emprego milionária do Bloco Central, acho muito estranhas estas alegadas confusões que envolvem o Dr. Dias Loureiro.

Eu nem quero perceber o que se passa. Sinceramente. Mas confesso que fiquei mesmo com a ideia que o Presidente da República está muito incomodado com a questão. Primeiro teve de validar a decisão nacionalizadora do Governo. Depois começou a ver o seu nome envolvido neste lamaçal. E agora, vê o seu conselheiro de Estado, amigo de há anos, chamado à dança.

Cavaco Silva explicou que não pode demitir Dias Loureiro – a legislação não o permite – e, implicitamente, deixa ao seu conselheiro o ónus dessa decisão. E o que faz o ex-ministro? Pede para ser recebido em Belém e, como diz que não cometeu ilegalidades, anuncia que não irá renunciar.

O problema do Dr. Dias Loureiro não é o de ter infringido ou não a lei – para isso supostamente existem os Tribunais. O problema é o que colocou a primeira figura do Estado, seu amigo pessoal, numa situação incómoda. Eu aprendi há muito que os amigos nunca se deixam na mão. O Dr. Dias Loureiro, pelos vistos, aprendeu que, nas amizades, quando a coisa aperta, o mais fácil mesmo é assobiar para o ar.