sexta-feira, 22 de julho de 2011

Bom jornalismo e reportagem








A iniciativa Público Mais é uma pedrada no charco na Comunicação Social que poderá fazer a diferença no actual panorama dos Media.

Fui jornalista durante cerca de uma década e bem me lembro o que implicava dedicar-me a jornalismo de investigação e/ou reportagem. Cada vez que me deparava com uma história que exigia algum tempo e dedicação extra – e até saídas para o exterior – era o resto da redacção que pagava por isso. A estrutura do jornal onde me encontrava era pequena, o trabalho do dia-a-dia precisava de continuar a ser feito e isso acabava por sobrecarregar os meus “camaradas”.

Por outro lado, também me recordo de reportagens que não fiz, caminhos que não trilhei, porque não havia budget para me enviar durante uma, duas ou três semanas para o exterior em busca daquela história fantástica que tinha tido conhecimento.

As coisas são como são. Lembro-me que a falta de meios levava-nos a ser sagazes na procura da informação, inventivos na busca de meios para dar um valor acrescentado a uma notícia que todos poderiam ter, mas que nós, no jornal, procurávamos outro ângulo.

Recordo-me de um grande director que tive nesse jornal, o Hermínio, com quem discutia abordagens e temas para dar mais-valia ao nosso trabalho diário de jornalista. Apesar de ser director (ou porque o era), o Hermínio trabalhava lado a lado connosco e incentivava-nos a ir sempre mais longe. Tivemos grandes “cachas” com o conflito no Afeganistão – apesar de estarmos a milhares de quilómetros de distância – e, no 11 de Setembro, recordo-me que fomos os únicos a dar a notícia que o pessoal da CIA estava a evacuar o edifício porque tinham tido ameaça que o ataque terrorista em curso iria também atingir Langley.

Numa altura em que só ouvimos falar de crise, a notícia da criação do Público Mais é uma excelente notícia. Ao ir buscar mecenas que dão milhares de euros para que o Público possa fazer grande jornalismo e grandes reportagens de investigação, o jornal e a sua directora, Bárbara Reis, mostram que não cruzam os braços perante o ciclo vicioso que nos afecta a todos e que a Comunicação Social também não é imune: a falta de orçamento para serem originais e criativos.

Com esta iniciativa todos ganham. O jornal, as empresas mecenas, os jornalistas mas, acima de tudo, os leitores que passam a poder ler artigos seguramente interessantes que nos afastam da espuma dos dias e nos levam a sonhar, novamente, que o bom jornalismo é possível. Basta para isso ter apoios e imaginação.