quarta-feira, 20 de julho de 2011

Que Europa?



A construção europeia tem sido, à falta de melhor argumento, o motor que tem levado a que Estados, povos e países que teriam tudo para se desentender, tenham encontrado plataformas comuns. Numa frase: estarmos juntos tem evitado, pelo menos, os horrores de uma nova guerra à escala global no teatro europeu.

Os acontecimentos recentes mostram, no entanto, que a Europa pode ter tido mais olhos que barriga ou falta de coragem, consoante a perspectiva com que se encare o caminho feito desde meados do século passado.

À luz de qualquer uma das opiniões, é unânime considerar-se que a Europa vive hoje em dia os problemas da sua (in)decisão. Não é possível pedir aos Estados membros uma união económica, direitos aduaneiros, liberdade de pessoas e bens, e não avançar-se para uma União Política. E não estou a falar, naturalmente, da falta de peso político da Comissão Europeia, do MNE europeu (quem?) ou de um Parlamento Europeu , em cujas identidades nacionais pouco se revêem.

Os pequenos passos que foram dados no início do processo europeu foram coerentes, pensados e estruturados para uma entidade cujos membros partilhavam um caminho e herança comum. A União Europeia alargou-se para lá do que era inimaginável aos seus fundadores e o disparate continua, até porque não foi abandonada a ideia de um dia integrar a Turquia, e continua em cima da mesa, ao que sei, arranjar um estatuto para os países do Magreb(???).

A Europa atravessa uma crise sem precedentes. Uma crise de valores, agravada com uma crise económica. E, consequentemente, a solidariedade europeia que políticos como Delors, Kohl, Mitterand preconizaram e defenderam - mesmo quando isso lhes custou algum desconforto interno - tem os dias contados.

O eixo Paris-Berlim é hoje em dia uma ficção. Existe o eixo Berlim-Berlim e pouco mais do que isso.

O vergonhoso ataque ao euro e as consequências da falta de união política e económica da UE são o reflexo óbvio da queda de um Império. Do fim de um gigante com pés de barro. Na hora da aflição, não somos todos Europa. Uns são PIGS, como se sabe.

O problema que ainda ninguém parece ter percebido é que no dia em que os PIGS caírem, novos PIGS se seguirão. E, ou a Europa luta contra esse determinismo ou corre o risco de ver o projecto europeu acabar mais depressa do que muitos pensavam. Mas se calhar a ideia também é essa…