sexta-feira, 15 de julho de 2011

A Comunicação do novo Governo




Depois de um Governo que muito comunicava e que muito pouco ou nada dizia que correspondesse à realidade, os Portugueses esperam agora que lhes falem a verdade. Os tempos não estão para brincadeiras e os sinais de mudança, pelo menos política, estão aí. E já não falo da mudança – simbólica – das viagens de Estado de Executiva para Económica, algo que Passos Coelho já fazia enquanto líder do maior partido da oposição e que seria expectável que mantivesse enquanto PM. Falo, isso sim, de todo um estilo diferente de governação que, a confirmar-se, irá fazer doutrina e condicionar os próximos Governos do futuro.


Dizem os mentideros, que o Primeiro-Ministro irá fazer uma estratégia comunicacional à Obama: briefings semanais, onde tudo é explicado aos Media. Oxalá assim seja. Portugal vive a ironia de ter grupos de Comunicação Social ligados à direita, mas onde o predomínio de quem escreve, opina e decide é, tendencialmente, de esquerda. O desafio, para o PSD, neste Governo, é por isso árduo: está condicionado pelas decisões da Troika, tem de dar explicações ao parceiro da coligação, convencer uma Comunicação Social de esquerda que o percurso é este e só poderia ser este e, mais importante que tudo isso, mostrar aos Portugueses e a Portugal que, com este caminho, o País regressa à senda de sucesso.

Alessandra Augusta, a marketeira brasileira que desenhou a campanha eleitoral do PSD, diz que o grande trunfo dos sociais-democratas foi a própria personalidade e autenticidade do agora Primeiro-Ministro. Passos Coelho, disse ela numa entrevista recente ao semanário Sol, foi deixado o mais natural possível e que «foi muito mais ele a contribuir para que nós só déssemos forma às coisas do que o marketing a interferir directamente. Se Passos Coelho tivesse um perfil mais artificial não teria avançado tão rapidamente».

Sabemos também que o estado de graça deste Governo irá durar enquanto o que foi vendido aos Portugueses continuar a ser mostrado como algo de credível e real e não apenas como um face lifting de algo que se faz porque é giro e pode manter a malta animada.

Ao romper com determinadas lógicas aparelhísticas de Governo – contam-me que há muitos ministeriáveis que ficaram aborrecidos porque o telemóvel deles não tocou – ao não ceder ao Partido e a Lobbies que queriam impor determinada pessoa para determinado cargo, Passos Coelho inaugura também um novo estilo de governação. As escolhas para a Economia e Finanças, por exemplo, são apostas pessoais do líder do PSD, que terão mesmo que dar resultado. Sob pena de os primeiros que as aplaudiram agora serem, no futuro, os mesmos que irão pedir a cabeça do Primeiro-Ministro se algo correr mal.

A estratégia deste Governo deve resumir-se, por isso, a uma só palavra, repetida até à exaustão: comunicar, comunicar, comunicar. Os tempos estão difíceis, tudo indica que ainda serão agravados, e nada pior do que não existir uma estratégia integrada de comunicação que explique, aos Portugueses em geral e aos investidores estrangeiros em particular, que Portugal entrou no bom caminho. Relembro que, a direita, no nosso País, sempre teve alguma dificuldade em fazer passar a sua mensagem, ao contrário da esquerda. Mas confio que, pela primeira vez desde há muitos anos, haverá aqui uma conjugação favorável que deverá ser aproveitada.

Costuma-se dizer que não há uma segunda oportunidade para criar uma primeira boa impressão. Por tudo o que vimos até agora, acredito que esta equipa terá tudo para dar certo. Oxalá não falhem.