terça-feira, 26 de julho de 2011

Lições da Noruega



O que aconteceu por estes dias na Noruega foi incomum. Quase que encararíamos com a normalidade possível que este ataque acontecesse nos EUA, onde o direito ao uso e porte de arma é proporcional aos loucos que as usam para este tipo de acções.

O problema, que nos afecta a todos nós europeus, é que este ataque não partiu de uma qualquer célula escondida da al-Qaeda, não foi feito por árabes, africanos ou uma qualquer outra minoria que se sente acossada nos locais onde vive e que já percebeu que um ataque no mundo ocidental vale mil vezes mais do que 10 ataques num qualquer país do terceiro mundo.

Este ataque afecta-nos, primeiro enquanto europeus e depois como herdeiros da civilização judaico-cristã e vai contra tudo aquilo que se pretende de uma construção europeia: vários povos, várias línguas, unidas em nome de um interesse maior.

O problema é que a Europa há muito deixou de ser uma solução e é, em muitos casos, um problema. A herança da nossa cultura e civilização espalhou-se pelo mundo ao longo dos séculos, fez doutrina e o chamado mundo ocidental está sempre mais do que preparado para ensinar o dito terceiro mundo o quão é bestial viver de acordo com as nossas regras e os nossos costumes e fica em choque quando terceiros não aceitam. Volto a dizer: se fosse feito por árabes ou africanos, o problema estaria resolvido per si: seriam apelidados de radicais, terroristas, ingratos porque cospem no país que os acolheu e tentam mudar uma sociedade que os recebeu.

O problema aqui é que o rapaz até pode ser doido (que o é seguramente), mas tem a chatice de ser louro e de olhos claros. E a Europa não está preparada para perceber que, entre as suas fronteiras e nas suas fileiras, há descontentes que não gostam do rumo que a coisa está a tomar.

A Europa continua a ser considerada pelo terceiro mundo um lugar de paz, prosperidade e bem-estar e é natural que assim seja percepcionada. Para quem as imagens desse paraíso na terra entram pelos olhos dentro em locais tão afastados de nós como o Paquistão, a Argélia, a Nigéria ou a Colômbia, estranho seria que estes não quisessem usufruir de um pouco dessa prosperidade.

Mas, como se sabe, a raiz do problema ainda vai mais longe. Dos milhares (milhões?) que tentam todos os anos, apenas alguns conseguem. Uns morrem pelo caminho, outros são deportados. Na sua maioria, são explorados porque, nos países que escolhem para viver, não há uma verdadeira política de acolhimento para quem tenta na Europa a sua sorte. E, paralelamente, não há também políticas de restrição de entrada, sob pena que qualquer governo que tenha a veleidade de a implementar em pleno é chamado de fascista, nazi, racista ou outros epítetos do género.

No entanto, muitos entram e engrossam as fileiras da imigração ilegal. Os sinais estão todos aí para quem os quiser ver. A imigração aumenta, mas a quem chega não lhes é dada condições. E os partidos à margem do sistema democrático, um pouco por toda a Europa, lançam o discurso fácil da “Europa para os europeus” e “estrangeiros fora”. E, às vezes, este discurso pega onde menos se espera.

Será, por isso, necessário repensar-se toda a estratégia que tem sido feita neste domínio. A Europa não pode ser uma “Europa fortaleza” (não tem nem os meios, nem a vontade para isso), mas também não pode ser a “Europa libertária”, onde tudo cabe e onde todos fazem parte. Não o deve fazer no alargamento a países que nada têm a ver com o ideal europeu e, por maioria de razão, a povos que apenas aproveitam as condições da Europa para a tentar subverter por dentro.

Não é uma opção fácil admito. Mas terá que ser encontrado um meio caminho, sob pena que o que ocorreu na Noruega se repita diversas vezes em vários países europeus. O descontentamento é terreno fértil para a vingança.