quinta-feira, 18 de agosto de 2011

O convite

A alegada proposta de Miguel Relvas a Mário Crespo para este ser correspondente da RTP em Washington peca pela forma, mas não pelo conteúdo. Não compete ao Ministro que tutela a Comunicação Social investigar o mercado, numa competência que é da Direcção de Informação do canal Estatal. Mais. Faltou aqui algum bom-senso. Mas também é verdade que não se está a criar um cargo de raiz ou algum tacho: a RTP está sem correspondente em Washington desde a saída de Vítor Gonçalves e o procedimento de concurso é normalmente interno, critério que não se aplica a Mário Crespo, actualmente jornalista da SIC. O próprio, por seu turno, não desmente a abordagem e até se mostra honrado com o convite.

Dito isto, se se confirmar, é um justo reconhecimento a Mário Crespo, um dos profissionais de comunicação mais multifacetados que conheço. Se for para Washington, onde já esteve pela RTP nos anos 90, é a prova viva que o mundo dá muitas voltas e que, afinal, até há justiça neste mundo.

Já não é do tempo de muita gente, mas ainda me recordo a forma como Mário Crespo foi maltratado pela administração (socialista) da RTP na altura, colocado na prateleira, humilhado e desprezado. Cansou-se da forma como lidavam com ele e após uma conversa com Emídio Rangel, que lhe deu a mão numa altura difícil da sua vida, ingressou na SIC. Criou o seu espaço e tem feito um trabalho notável.

Terei pena se Mário Crespo aceitar o convite feito e saia da SIC. Não porque não ache que a proposta é despropositada – não o convidaram para ser piloto de aviões certamente - mas porque sentirei falta das entrevistas notáveis que realiza, como foi o caso, por exemplo, da de ontem, a Viriato Soromenho Marques.

Seja como for, a polémica é estéril, despropositada e desnecessária. Há, infelizmente, coisas bem mais graves que se passam na RTP.