segunda-feira, 1 de agosto de 2011

Portugal é deles




Por onde quer que se veja a venda do BPN, este processo só tem uma qualificação: vergonha. A compra deste banco, que durante anos sustentou e ainda sustenta alguns barões e baronetes do regime, não indiciava nada de bom. O propósito do mesmo esteve sempre visível: banco português de negócios. Podiam mesmo ter mudado de negócios para negociatas que o resultado seria o mesmo.

Depois do escândalo, o Governo socialista decidiu nacionalizar e enterrou literalmente milhares de milhões de euros num banco cuja viabilidade financeira há muito que não existia. Veio o agravar da crise, as eleições e o problema acaba por ter de ser resolvido pelo actual Executivo.

A compra do BPN por capitais angolanos já não devia surpreender ninguém. No final de contas, o regime de Luanda é conhecido pela sua concentração de milionários no seio do Governo e das Forças Armadas, num país onde a maioria da população vive com enormes dificuldades económicas e com fome.

Nada que faça preocupar a suposta elite do regime, que compra tudo o que pode, gasta o que não é deles e tem a suprema lata de pedir auxílio para campanhas internacionais de ajuda ao seu povo, enquanto se esquece de pagar a sua dívida externa.

E lá vamos, cantando e rindo. E chegamos a este ponto. O Estado tentou libertar-se de um peso morto e a que custo. Destaco: vende por 40 M€ um banco no qual enterrou 2,4 mil M€; tem de assumir o que irá fazer a mais de metade dos trabalhadores do BPN, incluindo pagar indemnizações e rescisões; antes de o vender, o Estado terá de injectar mais 550 M€ no BPN.


Durante a Guerra do Ultramar, os soldados Portugueses que embarcavam nos paquetes na Rocha Conde d´Óbidos para combater em África ouviam recorrentemente uma música que, no refrão apelava ao sentimento pátrio e dizia-lhes que “Angola é nossa”.

Ironia do destino, 36 anos depois da independência a Angola, são os angolanos que podem dizer que “Portugal é nosso”. É triste.