quarta-feira, 17 de agosto de 2011

Precisamos de uma RTP estatal?

Em termos de perda de soberania de Portugal, confesso que me fez mais confusão a substituição do escudo pelo euro. Na escola fui ensinado que a soberania era o núcleo duro e inamovível de qualquer Estado. Mais tarde, já nos bancos da universidade, vieram afinal dizer-me que a soberania é um conceito mutável e não é por os Estados abdicarem de alguns elementos tidos como essenciais de soberania que não deixam de ser menos Estado por causa disso.

Ficámos, portanto sem a moeda, o Governo actual obedece a uma Troika, as directivas da União Europeia têm prevalência sobre o direito nacional, o tratado de Lisboa limitou ainda mais a soberania dos Estados membros e depois da fúria nacionalizadora dos idos anos de 75, onde até a loja do sapateiro Zé foi nacionalizada porque o senhor tinha dois ajudantes que também queriam ser patrões, estamos dispostos a vender empresas que estão nas mãos do Estado, acabar com golden shares e, basicamente, colocar Portugal à venda.

No meio de tudo isto, confesso que me faz alguma confusão o drama existencial de algumas virgens ofendidas com a opção deste Governo em querer privatizar a RTP (e a Lusa, ao que tudo indica também). Acompanhem-me neste raciocínio:

Nacionalizamos tudo o que havia para nacionalizar e destruímos o nosso tecido empresarial que cresceu nos últimos anos à sombra do Estado; mantivemos quotas de incompetentes que desde essa altura saltam de empresa estatal em empresa estatal e, tão depressa, são peritos em transportes como em batatas fritas; vendemos a nossa agricultura e as nossas pescas em nome de fundos intermináveis que afinal terminaram mesmo; abdicamos da nossa soberania; destruímos as Forças Armadas, que são hoje uma pálida imagem do que poderiam ser;

Década atrás de década, Governo atrás de Governo, foi sendo destruído um País. E agora insurgem-se contra a privatização da RTP porque, aqui d´El Rei, a nossa soberania está em causa? Estamos a brincar?

Por mim, venda-se a RTP. Milhões de euros, pagos por todos nós são injectados anualmente nesta empresa para que alguns andem a brincar aos jornalistas e aos gestores criativos. Com milhões eu também consigo fazer um bom trabalho. O grave é que, no caso da RTP, nem com esses milhões, o canal (ainda) estatal vai lá. Só é líder de audiências quando exibe jogos de futebol. Serviço público? Na RTP? Só se for uma piada de mau gosto. E à nossa custa, ainda por cima.